quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

As cidades do bem viver – um modelo para refletir


Por João Alves Júnior

O desejo de viver numa cidade que proporcionasse alta qualidade de vida e bem estar a seus habitantes e ao mesmo tempo desenvolvimento econômico, não seria algo tão distante do desejo de muitos. 


Uma cidade, que tivesse como prioridade garantir a qualidade de vida a seus habitantes. Um modelo de desenvolvimento que, através da valorização das pessoas, dos produtos locais, das civilizações rurais, do meio ambiente e das áreas verdes, da arquitetura, sua história e cultura, sem correrias e sem se preocupar com o tempo, seria talvez utopia? Não. Desde que, tudo isso comece com a mudança de mentalidade de quem a habita. 

Um fato esta semana me fez recordar uma reportagem exibida no ano de 2010, no Globo Repórter da TV Globo, pela competente repórter Ilze Scamparini, que relatava o movimento das “Cidades do bem viver” na Itália, mais precisamente na região da Toscana, e que se espalhava pelo mundo.

Controlar o tempo, uma ambição humana tão antiga quanto os povos remotos, ganhou na Itália um novo significado. No país, começou uma experiência inovadora, considerada uma das saídas para a salvação do planeta: diminuir o ritmo, ir mais devagar, com calma. A ideia do movimento que está se espalhando pelo mundo, "cidades do bem viver", é promover mudanças de mentalidade e estilo de vida. (Ilze Scamparini)

Imagem de Levanto - Itália. Fonte: G1.com
O Movimento nasceu na Toscana, bela região da Itália e famosa por seus vinhos, na Prefeitura de uma cidade de 12 mil habitantes, num contexto em que, se precisava mudar drasticamente o estilo de vida do lugar. Uma mudança de visão para a valorização das pessoas que trabalhavam com a terra, seus saberes e talentos. “Amar onde se vive, diminuir o ritmo, ir mais devagar”, como relata um dos entrevistados na reportagem.

Para que as cidades pudessem ser reconhecidas como “cidades do bem viver”, elas tinham que cumprir 55 exigências. Mas, o principal aspecto deste movimento pelo “bem viver” é a mudança de mentalidade – conscientização – das pessoas para com o lugar onde vivem e com seu estilo de vida.


Na Toscana, relata a reportagem, a valorização dos pequenos investidores locais e defender seus produtos, a valorização das civilizações rurais, valorização do espaço urbano, verde e mobilidade estão entre os mais importantes aspectos. Em Levanto, cidade em que o movimento é considerado modelo para o mundo, o prefeito vai de bicicleta para a Prefeitura e pedalar é algo comum para seus habitantes.

É incrível observarmos como estes pontos destacados acima como algumas das exigências prioritárias na Toscana para o “bem viver”, são bem semelhantes às necessidades que nossas cidades brasileiras bem necessitam: [i] valorização e incentivo aos pequenos investidores locais e defesa de seus produtos, [ii] valorização das civilizações rurais – agricultores rurais familiares -, [iii] maior respeito pelo ambiente em que se vive (meio ambiente), [iv] maior respeito para com o cidadão e com o transito, [v] valorização das áreas verdes nas cidades, [vi] diminuir o ritmo, [vii] mudar o estilo de vida, [viii] mudar a mentalidade...


Estima-se que cerca de 70 cidades Italianas aderiram oficialmente a este movimento do “bem viver”, e que os resultados foram observados no aumento incontestável da qualidade de vida de seus habitantes.


Outra fonte destaca, que, no Brasil, duas cidades aderiram a este movimento e possuem o certificado de ”cidades do bem viver”, sendo elas, Tiradentes de nossa querida Minas Gerais e Antônio Prado no Rio Grande do Sul.


São 55 as exigências para se tornar cidades do bem viver, confira na integra:



1-Promover e difundir a cultura do bem viver através de pesquisa, experimentação e aplicação de soluções para a organização da cidade.

2-Atuar políticas ambientais para manter e desenvolver as características do território e do tecido urbano, valorizando, em primeiro lugar, as técnicas de recuperação e reutilização.


3- Atuar política de infraestruturas que valorize o território e não a sua ocupação.

4-Qualidade do ar, da água e do solo devem respeitar os parâmetros fixados por lei.

5- Promover e difundir a colheita diferenciada do lixo sólido urbano.


6- Promover a compostagem (decomposição controlada de resíduos) industrial e doméstica.

7- A prefeitura deve garantir uso de depurador municipal de águas residuais.


8- Atual plano municipal de economia de energia, com especial referencia ao uso de fontes energéticas alternativas e renováveis.

9- Incentivar a produção e uso de produtos alimentares obtidos com técnicas naturais e compatíveis com o ambiente, com exclusão de produtos transgênicos. 

10- Plano regulador do uso e distribuição de placas e cartazes na cidade. 

11- Usar sistema de controle da poluição eletromagnética. 

12- Aplicar programa de controle e redução de poluição sonora. 

13- Usar sistema e programa de controle da poluição luminosa. 

14- Adotar de sistemas de gestão ambiental. 

15-Aprovar programas de intervenção para preservar e recuperar os centros históricos e obras de valor cultural e histórico. 

16- Adotar projetos para mobilidade segura e políticas para incentivar alternativas ao transporte privado, a integração do tráfego com os meios públicos e as áreas exclusivas de pedestres, ciclovias e vias exclusivas a pedestres para acesso a escolas, locais de trabalho, etc. 

17- Criar ciclovias entre escolas e edifícios públicos. 

18- Controlar as infraestruturas para garantir o uso de locais públicos a pessoas portadoras de deficiência física, abatimento de barreiras arquitetônicas e acesso às tecnologias. 

19- Promover programas para facilitar a vida familiar e as atividades locais como esporte, recreação, atividades que visem unir família e escola, assistência domiciliar a idosos e doentes crônicos, plano de organização dos horários da cidade e banheiros públicos. 

20- Criação de centro de assistência médica. 

21- Instalação de áreas verdes de qualidade e infraestruturas de serviços. 

22- Atuar plano de distribuição de mercadorias e criação de centros comerciais naturais. 

23- Estabelecer acordo com os comerciantes para recepção e assistência a cidadãos carentes: “loja amiga”. 

24-Atuar melhoria das áreas urbanas que estão em más condições e projetos para reutilizar a cidade. 

25- Intervir para a melhoria urbanística e promover uso de tecnologias com o objetivo de melhorar a qualidade do ambiente e do tecido urbano. 

26- Promover a bioarquitetura, com criação de departamento especifico e programas para formação de pessoal. 

27- Dotar a cidade de sistema de cablagem através de fibras óticas e sistemas sem fio. 

28- Controlar campos eletromagnéticos. 

29- Atuar plano horário de gestão e sistema de distribuição dos depósitos de lixo na cidade. 

30- Promover o plantio, em lugares públicos, de plantas de valor ambiental, com critérios de arquitetura naturalística. 


31-Oferecer serviços ao cidadão através da internet e promover o uso da rede cívica e telemática. 

32- Eliminar a poluição acústica em áreas barulhentas através de sistemas a prova de som. 

33- Promover o teletrabalho (trabalho via internet). 

34- Desenvolver a agricultura biológica. 

35- Conceder certificado de qualidade aos produtos de artesanato artístico. 

36- Tutelar os produtos e manufatos artesanais e/ou artísticos em risco de extinção. 

37- Usar produtos biológicos e/ou do território e promover a manutenção das tradições alimentares nos restaurantes coletivos e nos refeitórios escolares. 

38- Promover o censo da produção típica do território, apoiar a sua comercialização em mercados de produtos locais e ocasiões e espaços privilegiados para o contato direto entre consumidores e produtores de qualidade. 

39-Promover censo das arvores da cidade, valorizando as grandes ou históricas. 

40-Atuar para valorizar e conservar as manifestações culturais locais. 

41- Promover a instalação de hortas comunitárias urbanas e escolares, de produtos locais, cultivados com métodos tradicionais. 

42- Atuar programas de educação sistemática ao gosto, paladar e à alimentação nas escolas, em colaboração com “slow food” 

43- Instituir um “Convivium Slow Food” local. 

44- Atuar projetos da “Arca” ou “Presidio Slow Food” para espécies ou produtos em risco de extinção. 

45- Usar produtos do território tutelados por “slow food” e respeitar as tradições alimentares nos restaurantes e nos refeitórios escolares com programa de educação alimentar. 

46- Apoiar as produções típicas do território através da ativação dos “mercados da terra”. 

47- Apoiar o projeto “Terra Madre” e as comunidades alimentares através de iniciativas solidárias. 

48- Aprovar projetos para formação e informação turística e a boa hospedagem. 

49- Atuar plano de sinalização internacional e percursos turísticos guiados. 

50- Aprovar política de hospedagem e projetos para facilitar a visita dos turistas e acesso à informação e serviços, sobretudo durante eventos. 

51- Preparar de itinerários “slow” da cidade através de material impresso, via web etc. 

52- Promover a transparência dos preços e exposição das tarifas do lado de fora dos exercícios comerciais. 

53- Aprovar campanha de informação dos cidadãos sobre a finalidade de ser “cidade do bem viver” e a promoção entre todos os moradores, não apenas os operadores, da consciência de viver em uma “cidade slow”. 

54-Atuar programas para envolvimento da sociedade na filosofia “slow” e aplicação dos projetos “Cidades do bem viver”, de modo especial as hortas e jardins didáticos, presídio do livro e adesão ao projeto do Banco do Germoplasma. 

55- Aprovar programas de divulgação das atividades das “Cidades do Bem Viver” e de “Slow Food”.


Confira a reportagem original do Globo Repórter através do link:




Referências:

[1] Cidades descobrem benefícios de viver em ritmo mais lento na Itália. G1 – Globo Repórter. Disponível em: http://g1.globo.com/globo-reporter/noticia/2010/12/italia-descobre-os-beneficios-de-viver-em-um-ritmo-mais-lento.html

[2] Como ser uma cidade do Bem Viver. Disponível em: http://intercambiando.blogs.sapo.pt/33565.html



Um comentário:

  1. Junior, que interessante da reportagem acima! Também concordo que temos que valorizar o que temos e contribuir para a qualidade de vida de uma população que urge permitir "viver" em um ritmo mais desacelerado, em harmonia com o Criador, com o meio ambiente e com as criaturas existentes. Amei!

    ResponderExcluir